passarola quer voar: setembro 2009

quarta-feira, setembro 30

As beringelas assassinas

Não pode ser. As beringelas não têm dentes! No mínimo, uns dentes de alho esmigalhados para temperar o cozinhado, agora o vegetal beringela cru não tem boca, quanto mais dentes! Vou repensar com calma o que aconteceu. Eu ia apanhá-las e pensei que estavam bonitas demais para desaparecerem da minha paisagem. Estava orgulhosa das gigantescas beringelas roxas que ali cresceram a contrastar com o verde muito verde da planta. Não era de ânimo leve que as apanhava. Mas, ou isso, ou ia vê-las a apodrecer sem as experimentar no prato. Decidi-me e preparei-me para as apanhar. Assim que me aproximei, reparei em qualquer coisa estranha por trás da planta. Recuei quando percebi que era sangue e enojei-me quando identifiquei os restos de uma galinha morta. Ainda me arrepio com essa imagem. Ainda por cima aqui sozinha, sem ninguém a quem pedir ajuda em quilómetros de terreno. Ganhei coragem, calcei umas luvas e aproximei-me muito contorcida e arrepiada para tirar dali os restos do animal. Que nojo! Não sei como é que fui capaz. O cheiro nauseabundo a carne podre era tão intenso que não consegui evitar virar a cara para o outro lado enquanto apalpava o terreno com as mãos. E foi aí. No preciso momento em que eu não estava a olhar que senti um abocanhar forte no pulso, larguei os ossos que já tinha na mão e vi a luva cor de rosa a ficar vermelha de sangue. Retirei-a com dor e descobri que me faltava no pulso o equivalente ao pedaço de látex que faltava na luva. Corri para o interior de casa com o sangue a escorrer-me pelo braço e uma dor a agonizar-me no cérebro. Procurei desesperada a mala de primeiros socorros na casa de banho e, quando comecei finalmente a desinfectar a enorme ferida que latejava no braço, já tinha uma poça de sangue no chão de azulejo. Horrorizada com a visão de um buraco no pulso do meu braço direito e com a fraqueza de todo o sangue que me tinha visto perder, senti-me a perder os sentidos. Sentei-me no tampo da sanita para evitar uma queda ainda mais grave. Devagarinho, envolvi o pulso numa ligadura branca e fiquei ali um bocado a recuperar. Mais tarde voltei a aproximar-me da planta das beringelas gigantes à espera de encontrar uma grande ratazana ou qualquer sinal de um animal com dentes que me pudesse ter atacado, mas não. Nem animal, nem vestígios de terra mexida por baixo da planta. Ainda estremeci com a visão do fantasma da galinha a morder-me o pulso para se vingar da sua morte mas é claro que as galinhas, assim como as beringelas, não têm dentes em vida, muito menos depois de mortas.
Deixei para o dia seguinte a limpeza dos restos da galinha e foi aí que vi pela primeira vez a mancha branca de dentes numa das beringelas roxas…

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segunda-feira, setembro 28

É hoje que ficamos a conhecer o Femina!!

A apresentação é na Fnac do Chiado às 18h30



The Legendary Tigerman_Femina


Eu vou lá espreitar e levantar o bilhete para o concerto no Lux, que ganhei com a pré-compra do CD/ DVD. Antes de ouvir, pareceu-me um bom negócio... vamos lá ver! :P
Quem vem mais?

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sexta-feira, setembro 25

Coisas boas de fim de semana…

Hoje apetece-me festejar as coisas boas da semana... E a festarola que o Maxime promete para hoje, não podia ser melhor:

Los Santeros



Los Santeros
_J'irai crascher sur vos tombes

E a seguir... tchanam... o maravilhoso Crooner Vieira



Crooner Vieira_Hino Selecção Euro 2008

Festarola da grande!! :))))

Amanhã tenho o Africa.Cont mesmo aqui à porta de casa, nas Tercenas do Marquês, com:

Kora Jazz Trio às 18h



Mulatu Astatke & the Heliocentrics às 20h



E Ferro Gaita às 22h



A entrada é livre até ao limite da lotação. Como estou aqui nas vizinhanças, para quem vier mais tarde e precisar, aceito encomendas para levantar os bilhetes mais cedo :))

E depois...
...era bonito fechar o fim de semana em grande, na festa dos 3 anos do Bacalhoeiro!!! Saudades de dançar!!! :P
Quem me acompanha? :)

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sexta-feira, setembro 18

Morte a seco na lavandaria, o fim

Estava deitado num espaço escuro e apertado e mais do que qualquer coisa intrigava-me o cheiro que me agredia. Não o conseguia identificar, confundia-se com um intenso cheiro a flores. Ainda pensei estar num jardim, mas não, o ar era demasiado abafado para isso. Sem saber onde estava e porque estava ali, a única coisa que me desesperava, era não saber que cheiro nauseabundo era aquele que me rodeava. Procurava na minha memória algum momento em que o tivesse sentido e de repente lembrei-me do velório da minha tia Cleia. Era isso. Rapidamente separei nas minhas narinas os três odores que compunham aquele cheiro: o cheiro a igreja, o cheiro a flores, o cheiro a corpo morto. Estava numa capela mortuária e senti o coração a parar de bater. Ou a certeza de que o meu coração já não batia. Entrei em pânico. Era eu que tinha morrido! Num flash, vi-me deitado, na pequena capela vazia, usando o fato e camisa que tinham ficado na sinistra lavandaria do bairro. Acordei suado de medo…
Este foi o primeiro pesadelo de uma sequência de muitos que me levaram à loucura.
Na noite a seguir o som, o cheiro, a sensação asfixiante da terra a cair por cima daquele caixão onde estava fechado. Era o meu funeral. Na outra noite a angústia de ter sido enterrado vivo, de já não ter ar para respirar e não conseguir gritar. Cada noite um pesadelo diferente, uma angústia diferente onde o único factor que se repetia, era o meu corpo morto, vestido com o meu melhor fato e camisa.
Foi então que procurei desesperadamente o recibo amachucado que tinha atirado para um canto de uma estante na sala e foi nesse momento que vi aquela data borrada a tinta na parte de trás do recibo. “Data de validade”, dizia.

Sentei-me branco de consciência. Aquela não era uma qualquer data de validade. Aquela era a minha data de validade e eu já tinha poucos dias de vida.

Ainda pensei voltar à lavandaria maldita, pedir satisfações, encontrar uma razão lógica para tudo, mas a proximidade da porta da loja era o suficiente para sentir o meu corpo a enregelar e os meus pés a recusarem-se a avançar. Nunca tinha sofrido um medo assim em toda a minha vida. Para me desculpar a cobardia, decidi acreditar convictamente que o pior que podia fazer era voltar à lavandaria. Se não tivesse o fato e a camisa comigo, como é que poderia ser enterrado neles? Sem isso, os meus pesadelos não se poderiam concretizar e como tal, não eram mais do que pesadelos. Tinha a certeza disso.
Mas a verdade, é que os pesadelos pioraram e com as noites em sufoco, os dias transformaram-se numa confusão de pensamentos e sentimentos que me impediam de viver. O meu corpo arrastava-se, incapaz de ver, de perceber, de reagir, de trabalhar. A imagem de mim morto, vestido com o meu melhor fato e camisa, não me saia da cabeça um segundo do dia. Foi aí que decidi aceitar a fatalidade e fechar-me em casa sozinho, à espera da morte. Era a única coisa que podia fazer.

Hoje é o dia em que vou morrer. Não tenho o fato e a camisa com que deveria ser enterrado. Deixei-os na lavandaria. Tomei um longo e relaxante banho de espuma, vesti um fato e uma camisa novos, especialmente comprados para o efeito e ofereci-me um belo banquete de despedida. Acabei de jantar e preparava-me para me deitar tranquilamente na cama à espera dela, quando voltei a tropeçar no recibo amachucado da lavandaria. Abri e fechei os olhos três vezes, não quis acreditar no que vi. No local onde tinha estado a data de hoje, bem marcada a tinta, agora está escrita esta frase:

“Éramos os teus favoritos e abandonaste-nos na lavandaria. Esta é a nossa vingança”

Não é possível, as roupas não têm sentimentos, isto não é verdade. Ou é... e eu podia não estar agora a morrer? Penso nas roupas, na lavandaria e na ideia absusda de sair agora de casa a meio da noite, arrombar a porta e resgatar o que nunca devia ter ficado sem resgato. É isso, mas o corpo está entorpecido, não reage. O veneno dos comprmidos cromeça a fazer afeito e as pavavras começam a fugir-me. Voc^~es têm de prceber, ei não podia ficar à` esper da morte acordado. Ei sempr decdi a muinha vida, eu tnho de fcar spre a gnhar,. Sse era para morrer ear eu quue tnha de m matar… Voc~es t~em de percebr snhdjkr cshjhrtnj nkjygrhueiwç nrbfffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffff

ffffffffffffffffffffffim

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quinta-feira, setembro 17

Is the only one of his kind...

and we're very lucky...
I guess we are lucky, it could have been two!!
Lindo!!! :D



The Legendary Stardust Cowboy_on "Laugh in"

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quinta-feira, setembro 10

O duelo nas traseiras... Um western felino!!

A coisa está bem organizada. Assim que o meu gato, ainda pequenino, pôs as patas nos pátios das traseiras, foi logo afugentado pela gata do primeiro andar. Não sei o que é que ela lhe disse, mas a verdade é que ele, ainda pequenino, ficou de tal maneira escondido sem se mexer atrás de uns arbustos que levei umas duas horas para perceber que aquela sombra era um gato… era o MEU gato, congelado de medo!! Na madrugada seguinte, acordei com o que me pareceu ser um cântico e era tão estranho que me levantei do quentinho da cama para ir espreitar. Encontrei o meu gato no parapeito da janela das traseiras e o gato grande amarelo do outro lado do vidro.
Agora já sei… o cântico era um aviso do gato rei de que aquele território é dele, a gata é dele e o meu que miasse baixinho e se afastasse de meter o focinho onde não era chamado.
Durante meses não quis voltar a sair para aquele lado. A varanda da frente era mais segura e livre de … gatos e gatas. E entretanto, naquilo a que eu leigamente denomino como brincadeiras, o meu gato foi treinando as suas habilidades felinas. Foi saltando cada vez mais alto, correndo com maior rapidez e atacando com mais segurança os inimigos (feitos de rolhas, bolas de papel de alumínio, garrafas, rolos de papel higiénico e afins) Também foi ficando cada vez mais rápido e eficaz no ataque às moscas e mosquitos… esses perigosíssimos monstros com asas.
Foi ficando maior… e maior… e, aos bocadinhos, voltou a pedir-me para ir lá atrás. Mas no início, ainda sem avançar muito no terreno. Começou por marcar como território dele as escadas de incêndio do nosso andar e do andar anterior, sem chegar ao pátio do primeiro andar. Quando o gato rei amarelo passava, o meu mostrava-se submisso e dócil. Olhava para ele com admiração e dava umas miadas para chamar a atenção, mas sem o importunar.
E assim foi até perceber que era maior que a gata que tanto o tinha assustado na primeira aventura nas traseiras. Foi-lhe tirando as medidas e quando teve a certeza que já podia com ela… pimba! Aproximou-se, assustou-a e correu com ela do pátio. Marcou território por todo o lado. Agora aquilo é tudo dele, e só me resta saber se sendo ele meu, tenho direito a convidar os amigos para uma churrascada ali…
Mas claro… Era inevitável que o gato amarelo voltasse à cena ao perceber que lhe estavam a roubar território. E isso está a acontecer neste preciso momento, num ambiente western, onde só falta a música, os chapéus à cowboy e as pistolas. Gato amarelo de um lado ( e ainda é maior que o meu) Gato preto do outro (definitivamente mais ágil porque o outro é gordo). Miram-se friamente à espera do menor movimento ou sinal para o ataque. E eu estou aqui, entre a assistência… e a realização, porque, claro, à menor suspeita que o meu gato pode levar uma patada, corto a cena e o território fica para quem o apanhar!!!

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terça-feira, setembro 8

Morte a seco na lavandaria 2

Assim que entrei na lavandaria, com um saco de roupa suja na mão, senti-me sufocado pelo espaço claustrofóbico. Um buraco escuro e apertado, sem janelas e a tresandar a tira nódoas. Para onde quer que olhasse só via fatos e vestidos pendurados em cabides e protegidos por plásticos. Arrepiei-me com a imagem de um grande caixão colectivo de corpos feitos de tecidos mortos e fiquei tão impressionado que me pareceu ver qualquer coisa a mexer dentro de um dos plásticos. Inspirei fundo e, com o ar nos pulmões, aproximei-me para ver um vestido tão antigo que era difícil imaginar que alguém ainda o usasse nos dias de hoje. Era só um vestido e, onde tinha visto um conjunto de vermes a subir por tecidos podres, não era mais que uma etiqueta amarelada com o tempo e cheia de borrões de tinta. Podia voltar a respirar sem medo…
Reparei que a conta estava feita numa moeda antiga nesse e em muitos outros fatos. Conclui que aquilo só podiam ser peças de roupa não reclamadas do século passado e que eu estava a alucinar com o ar tóxico do tira nódoas. Mas havia ali qualquer coisa que me deixou nervoso e estava a virar-me para abandonar a lavandaria quando a vi pela primeira vez. Senti o sangue a congelar-me as veias dos pés à cabeça. De onde é que ela tinha saído e porque é que olhava para mim assim, sem um sorriso, sem uma palavra? A sua figura esguia, inexpressiva, vestida de negro provocava-me arrepios e preparava-me para abrir a boca e dizer que tinha sido engano e que já estava de saída quando senti a sua mão fria a tirar-me o saco de roupa suja da mão.

Não consegui pronunciar uma única palavra.

Abriu o saco e analisou cuidadosamente as peças de roupa que eu ali tinha enfiado. Sem hesitar, separou o meu fato favorito e uma das minhas melhores camisas. Voltou a pôr as restantes peças dentro do saco e devolveu-mo. Aproximou-se de um pequeno balcão de pedra cinzenta onde tinha um livro de recibos e uma pena. Só a vi fazer um movimento com a pena sobre o livro, antes de regressar para junto de mim com dois papeis na mão. Entregou-me um duplicado e prendeu o original à manga do casaco que juntou às calças e camisa numa cruzeta. Olhou para mim e estendeu a mão magra aberta na minha direcção. Não me lembro se lhe perguntei o que queria ou se automaticamente percebi que me estava a pedir os €15,30 marcados a tinta na etiqueta. Sem vontade de resgatar as minhas peças de roupa favoritas paguei-lhe com uma nota de 20 e corri dali para fora. Desorientado, andei, andei, andei, às voltas no meu bairro confuso com o que tinha acabado de me acontecer. Tentei brincar com a situação, «Assim percebe-se porque é que ninguém lá volta para levantar os fatos… que belo negócio o desta mulher…» e voltei para casa. Para não dar mais importância ao caso, atirei o recibo para um canto. Só voltei a olhar para ele com atenção, depois dos pesadelos começarem…

a ser continuada

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quarta-feira, setembro 2

O Motelx começa hoje...

... a aterrorizar no Cinema S. Jorge...



Toda a programação, aqui.

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terça-feira, setembro 1

Morte a seco na lavandaria 1

Não me restam muitas horas de vida e se aproveito estes minutos para postar as minhas últimas palavras, é para evitar que vos aconteça o que me aconteceu a mim.
Apesar do estado de nervos em que naturalmente me encontro, vou tentar começar do princípio para que a minha história vos faça sentido. Na verdade, não foi a primeira vez que passei à frente daquela porta. Há quase 25 anos que deixei a casa dos meus pais para vir morar para aqui, por isso há quase 25 anos que passo por ali duas vezes por dia, cinco dias por semana. A caminho da paragem do autocarro para o trabalho e da paragem do autocarro para casa. Não imaginava que se escondia ali uma pequena lavandaria, se é que ela já ali estava…
Precisei dela agora nas férias, porque a minha mãe, pela primeira vez em 25 anos, teve a ideia absurda de ir viajar e deixou-me sem apoio para a limpeza da roupa. Comecei a ficar sem fatos e camisas lavados e foi assim que me vi obrigado a perguntar num café da vizinhança se havia por ali alguma lavandaria de confiança. Devia ter desconfiado do pousar da chávena nervoso de uma das senhoras mais antigas do bairro quando me indicaram aquele lugar. Mas, se ainda tenho dificuldade em acreditar agora no que se está a passar, como é que podia ter imaginado antes, que isto podia acontecer a alguém?…

a ser continuado...

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