passarola quer voar: Desejos nocturnos

sexta-feira, outubro 31

Desejos nocturnos

Au! Acordo a meio da noite com uma mordidela no pescoço. Melgas? Não é coisa mais de Verão? Vaporizo bem o quarto com insecticida e volto a tentar dormir, mas de repente, dá-me uma sede... uma sede de sangue. De sangue? Não tenho disso no meu frigorifico… Ouço o gato da vizinha a miar lá fora e começa a apetecer-me ao dente. Mas porquê? Até jantei bem, com sobremesa e tudo! E gato, se comi alguma vez, passou por lebre. Que vontade é esta? De onde é que vem? Vai-te embora, bicho, não te quero fazer mal… Vou à casa de banho passar água fria na cara… o diabo do gato continua a miar lá fora e a apetecer-me ao dente… mas… Ahhhhhhh! Não me vejo no espelho! Toco no espelho, o espelho está à minha frente, a luz acesa, a parede atrás de mim… E eu, onde é que estou? Só pode ser um pesadelo. Tenho de dormir, tenho de ir dormir, amanhã acordo e não me lembro de nada. Fecho a torneira e apago a luz, continuo a não ver o meu recorte negro no espelho. Vou para a cama… Fome… fome, fome, fome de carne? Depois de tudo o que comi ao jantar?… E o gato a miar-me à janela. Mas eu sou forte e vou conseguir resistir. Custa-me a adormecer… Tento contar carneiros… Um carneiro, dois carneiros, três carneiros no dente… e a fome, a sede, o sangue, a carne, os carneiros a apetecer-me ao dente… Viro-me e reviro-me na cama, sem conseguir dormir. Não vou comer mais a esta hora, é um disparate… Se substituir os carneiros por beringelas, pode ser que tenha mais sorte. Começo a contar beringelas, uma beringela, duas beringelas, três beringelas demolhadinhas em sangue. Outra vez o sangue! Não, isto não está a resultar! O melhor é tentar ler qualquer coisa. Um conto infantil. E de uma assentada só, o lobo mau come a avozinha e o capuchinho vermelho. Estúpido, também quero! Egoísta que comeste tudo sozinho… só por causa disso apetece-me comer o lobo mau com a avozinha e com o capuchinho vermelho lá dentro. Soa-me a pornografia e não percebo porque é que estou a pensar nestes disparates todos em vez de estar a dormir. Mas afinal, o que é que me mordeu? E com isto, passou-se a noite e o despertador já começou a tocar. O corpo pesado, não se quer levantar. Isto não é a minha hora, sinto que isto não é a minha hora… O despertador tocou cedo de mais… de certeza que ainda é noite lá fora… Faço um esforço, levanto-me tipo zombie, avanço para a janela, abro as portadas, está sol e…

pffffffffffffff

… não passo de um monte de cinzas no parapeito da minha janela. :P

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