passarola quer voar: Mais um post de antena à questão do aborto

sexta-feira, janeiro 19

Mais um post de antena à questão do aborto

O Rui Ferreira reabriu aqui esta questão com um comentário pertinente, do ponto de vista de um enfermeiro. Enquanto pensava no que lhe queria responder, e também na sequência de alguns almoços com a minha família conservadora e de direita, da qual eu fui a única que saí tresmalhada e com estas “estranhas” ideias liberais, uma coisa não me saía da cabeça.

Penso que já terão ouvido o argumento dos “números”. Está provado que nos países em que se liberalizou a questão do aborto, aumentou o número de abortos realizados. Pois não é preciso ter uma cabeça brilhante para perceber que a partir do momento em que o aborto é legal, passa a constar das estatísticas e logo, não é o número de abortos realizados que aumenta, mas o conhecimento estatístico do número de abortos realizados.

E posto isto, eu vou mais longe, imagino-me a viver num país bem gerido, onde existem cabecinhas pensadoras nos lugares certos que percebem (ou querem perceber) a enorme vantagem de haver um real conhecimento do problema. Saber quantos abortos foram realizados num determinado período, por quem, quais foram as razões que levaram essas mulheres a abortar, que medidas seria necessário tomar para evitar essa situação. Só com um real conhecimento de um problema, nós podemos tratar esse problema. Só quando essa questão for realmente considerada é que pode ser solucionada.

Neste momento, votar Não é decidir continuar a ignorar um problema. Se queremos defender a vida humana, não é esse o caminho. Pode não nos pesar na consciência enquanto não nos tocar directamente, enquanto não se passar connosco, mas o problema vai continuar a existir e principalmente nas classes mais desfavorecidas e com menos acesso à informação.

E de onde é que partiu o argumento que a partir do momento em que o aborto fosse despenalizado o governo ficaria desresponsabilizado de levar a cabo acções de educação e de sensibilização para este problema? Antes pelo contrário. A partir do momento em que este problema constasse dos “números”, o governo teria de ser obrigado a levar a cabo estudos sobre ele (sim... os estudos sobre os problemas do país também costumam ser umas belas palhaçadas que nunca chegam a conclusão nenhuma, eu sei...) e a tomar medidas para o resolver.

Eu voto Sim porque quero ver esta questão a ser encarada, levada a sério e tratada como um real problema social. Eu voto Sim porque acredito que só assim se está a defender a vida humana. A dos bébés e a das mães.

E depois do sim, muito trabalho ainda tem de ser feito porque esta questão não se resolve assim. Eu ainda vou escrever sobre este tema (mais um projecto, logo a seguir aos 4 livros em agenda), desafio aqui a vizinha socióloga, activista do Sim, também a ponderar dissertar sobre isto e a todos vocês a não deixarem morrer esta questão no dia do referendo, seja qual for o seu resultado.