passarola quer voar: A experiência cerebral do dia: Inland Empire

quarta-feira, abril 18

A experiência cerebral do dia: Inland Empire

O filme agarrou-me assim que começou e o meu cérebro desatou logo, a trabalhar que nem um louco... que é coisa que, dependendo das circunstâncias, eu até gosto. Recostei-me na cadeira, na fantástica sala 4 do Monumental (a única sala onde está em lx?) e durante a primeira meia hora/45 minutos, deixei-o (cérebro) levar-me pela sua primeira interpretação do filme... mesmo sabendo que não seria a última. Depois a primeira viragem e o cérebro sussurrou-me: “AAAhhhhhh!!! Era isso... faz sentido!!!” Mais meia hora e senti-o perdido... “afinal não era nada daquilo”... mas muito rápido, voltou a encontrar-se e deu-me mais uma ou duas interpretações possíveis... começou a ligar pistas, a associar personagens, situações... a interpretar códigos... a procurar argumentos para as suas interpretações...
O ponto de partida foi sempre o mesmo, a relação extra conjugal, a traição, as consequências... em espaços temporais e de consciência que se misturavam... o passado, o presente, o sonho, a realidade, a consciência ou não consciência dessa realidade.
Não estava a olhar para o relógio, mas foi uma experiência que passei com prazer durante, cerca de 2/3 do filme... A partir daí, começou tudo a ficar demasiado baralhado. Não só no filme, como no corpo... foi o estômago que se começou a queixar que tinha fome... “cala-te” – disse-lhe o cérebro a tentar concentrar-se... a bexiga que já queria ir à casa de banho... “aguenta-te”... e com tanta baralhação... às tantas... foi mesmo o pobre do cérebro que começou a ficar cansado... Durante uma boa meia-hora fiquei a desejar que o filme acabasse e confesso, que até me irritou um bocado esse looonngo cerca de 1/6 de filme... Depois voltou a prender-me nos cerca de últimos 15 minutos e quase que já não me levantava para sair.
Daqui a uns anos, depois de ver o filme mais uma boa meia dúzia de vezes, talvez perceba o sentido de todas as cenas que fazem o filme... hoje tinha-lhe retirado umas tantas que só serviram para me baralhar e cansar... mas talvez seja esse o objectivo do David Linch... não o cansar... mas o baralhar... ou talvez não tenha objectivo nenhum... foram ideias que foram surgindo, como explica aqui, e nós e os nossos cérebros é que têm esta estúpida necessidade de interpretar o que vêem... Como sempre, e mesmo filmadas em vídeo, adorei as ambiências David Linch, como sempre, adorei o surrealismo David Linch!! E realmente consegue manter-nos intrigados do princípio ao fim!! E o fim... é assim... :)