passarola quer voar: 23. O desencadear dos acontecimentos

sábado, junho 14

23. O desencadear dos acontecimentos

Pois é, com santos e festarolas, a Carlota já ía ficando esquecida :P

A Carlota e o Ricardo acordaram muito entusiasmados nessa manhã. Enquanto ela, na casa dela, conferia repetidamente se tinha tudo o que precisava dentro da mochila, ele, no quarto dele, testava as inúmeras possibilidades de vozes do computador e frases para a ligação telefónica à polícia. Finalmente os pais anunciaram que estava na hora da partida e, nas duas casas, as crianças foram as primeiras a entrar nos carros e a exasperar com os adultos que nunca mais se despachavam.

O carro da Carlota chegou primeiro à vila e, enquanto os pais e o Henrique se sentaram numa esplanada de um café, a Carlota aproveitou para correr para a cabine telefónica do jardim e confirmar que estava tudo em ordem. Retirou o cartão das chamadas da mochila, pôs-se em bicos dos pés, enfiou-o no respectivo local e levantou o gancho do telefone para se assegurar que tudo funcionava tão bem como da outra vez em que ali tinha estado com o Ricardo - Tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmm!!! – O telefone deu sinal de linha. Estava tudo preparado.

Ao sair da cabine viu o Jipe do Tomás e não precisou de voltar à esplanada pois o Ricardo já vinha a correr na direcção dela. Ele mostrou-lhe duas ou três vozes e rapidamente escolheram uma.
Tinha chegado a hora. Respiraram fundo e começaram a operação. A Carlota repetiu os movimentos que já tinha ensaiado e, ao ouvir sinal, marcou o número do cartão. Quando uma voz respondeu do outro lado, ela deu a indicação para o Ricardo accionar o programa do computador:
- Eu tenho informações sobre o quadro desaparecido esta semana.
- Peço desculpa, mas o Detective responsável não se encontra – disse uma voz feminina do outro lado da linha. – Pode voltar a ligar amanhã?
- O quadro desaparecido está na Residencial 3 Estrelas, quarto nº 116. Encontrará aí o ladrão dos dois assaltos ocorridos nestes dias.. – Insistiu a voz abafada do computador. E desligaram. A Carlota e o Ricardo ficaram a olhar um para o outro e começaram lentamente a sair.
- Será que lhe transmitem o recado? – Perguntou o Ricardo.
- Pois – pensava alto a Carlota – hoje é Domingo… devíamos ter pensado nisso..
- Só nos resta esperar para ver o que é que acontece – concluiu o Ricardo já perto da esplanada onde estavam os adultos. Todos juntos seguiram a pé para o restaurante.

Se a Isabel, o Jorge, o Tomás e a Vera não estivessem tão envolvidos e entusiasmados com os seus temas de conversa durante a refeição, certamente teriam reparado que três dos seus companheiros de mesa comiam silenciosos, ausentes, pensativos. A Carlota e o Ricardo imaginando todas as possibilidades de desfecho para a sua aventura e o Henrique, preocupado com as confusões em que o seu amigo Mário pudesse estar envolvido.

As respostas às perguntas dos três, vieram antes da sobremesa. Ainda não eram duas da tarde quando o telemóvel da Isabel tocou. Era o tal Agente da Polícia a informá-la que o quadro tinha aparecido e que solicitavam a presença dela na esquadra da polícia assim que lhe fosse possível. A Carlota e o Ricardo olharam nervosos um para o outro. Os dados tinham sido lançados e restava-lhes esperar que tudo corresse como previsto.

O fim do almoço precipitou-se. A Vera e o Tomás também foram chamados à polícia, num telefonema que chegou poucos minutos depois. Rapidamente pagaram a conta e deslocaram-se em grupo para a esquadra que ficava a poucos quarteirões do restaurante. Contrariados, a Carlota e Ricardo ficaram cá fora à guarda do Henrique, enquanto os pais foram tratar de encontrar o Agente.

- Bolas, como é que podem deixar-nos de fora num momento tão importante! – desabafou a Carlota enquanto se sentavam os três num banco de jardim que ficava no passeio, mesmo à porta da esquadra.
O Henrique riu-se, esqueceu-se do Mário e começou a brincar – O Agente inchado deve estar a perguntar pela trigésima quinta vez porque é que tu andaste a brincar com um lagarto na hora e no local do crime… aliás tu nunca chegaste a explicar isso muito bem…

A Carlota e o Ricardo olharam para ele nervosos, sem vontade de brincar. Não conseguiam deixar de pensar no que se estaria a passar dentro daquelas quatro paredes.
- Pronto!! Já não está cá quem falou. – Calou-se o Henrique ao perceber que não estavam a achar-lhe piada.

- Henrique! Temos um problema – chamou-o o Jorge que vinha a sair da esquadra com uma expressão preocupada – Descobriram a tela no quarto onde o tal Simão estava hospedado – explicou num tom de voz que, apesar de baixo, a Carlota e o Ricardo conseguiram ouvir perfeitamente. - Parece que o Mário estava com ele e também foi preso…

- O Mário? - O Henrique levantou-se rapidamente e, sem ouvir mais nada entrou a correr pelo edifício adentro. O Jorge foi atrás dele e a Carlota agarrou muito aflita nas mãos do Ricardo:
- Tu ouviste….o Mário está preso!!! – repetiu, angustiada - Temos que fazer qualquer coisa. Isto não está a acontecer como nós queríamos…
O Ricardo conseguiu manter a calma para tentar perceber o que se passava:
- O que é que o Mário estaria a fazer com o Simão?
- Mas não foi ele que roubou o quadro…
- Calma Carlota, vamos ver o que se passa…
- Tu não percebes!!!… É por nossa culpa que o Mário está preso… - a Carlota começou a andar de um lado para o outro, sem saber o que fazer, com o Ricardo atrás dela a tentar acalmá-la. De repente o ruído da travagem brusca de um carro fez com que os dois desviassem o olhar para a estrada em frente deles.
- Ah! – Gritou a Carlota ao ver estacionar à porta da esquadra o carro preto cuja matrícula começava por 89. Lá de dentro saiu o Homem sem rosto e ela escondeu-se atrás do Ricardo. O homem passou apressado por eles e já estava de costas, dentro da esquadra, quando retirou o chapéu. A Carlota e o Ricardo ficaram a ver a sua cabeça a desaparecer no escuro do interior.
- E agora?? Isto está mau para o Mário… e a culpa é toda minha – chorou-se a Carlota com um enorme peso de consciência por ter avançado com a ideia de colocar provas onde elas não existiam.
- Calma, a ideia foi minha. Tu não tens culpa de nada e eu vou safar o Mário desta história – tentou acalmá-la o Ricardo, apreensivo sem saber muito bem o que poderiam os dois dizer ou fazer, de forma a que acreditassem neles…
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