passarola quer voar: 24. Uma aventura na esquadra, parte I

sexta-feira, junho 20

24. Uma aventura na esquadra, parte I

Este também é dos grandes, acabei por dividi-lo em dois... e envolve perseguição polícial, que fica sempre bem num livro de aventura. ;)

Sem aguentar mais, a Carlota pegou na mão do Ricardo e entraram os dois pela porta da esquadra. Olharam em redor e não viram nenhuma das caras familiares que procuravam. Um dos agentes de um grupo de polícias que fazia uma pausa junto de uma máquina de alimentos, tentou interceptá-los: - Posso ajudar?
A Carlota e o Ricardo aceleraram o passo e continuaram a avançar pelas instalações, muito determinados.
- Onde é que vocês pensam que vão? – gritou o mesmo polícia, tentando detê-los.

A Carlota e o Ricardo continuaram, mais depressa, ignorando os protestos do agente.
Começaram a entrar nos corredores, primeiro à esquerda, depois à direita, e ainda à direita novamente, até o conseguirem despistar.
Continuavam sem ver ninguém até que, por detrás de uma janela reconheceram algumas caras. Viram o Agente inchado a falar com o Mário e com o Homem sem rosto que se mantinha com um ar sinistro de costas para a porta. O Mário levou as mãos à cabeça num movimento preocupado. O Homem sem rosto começou a gesticular e o Agente inchado pareceu não gostar do que ouviu. A Carlota e o Ricardo estavam encostados ao vidro, tão concentrados na tentativa de adivinhar sem ouvir o que se passava lá dentro, que se esqueceram de que estavam à vista de toda a gente. O Homem sem rosto começou a virar-se e as crianças curiosas não se mexeram. Corriam o risco de serem vistas mas não podiam desperdiçar aquela oportunidade de lhe verem os olhos, o nariz e a boca. Os seus corações palpitavam e quando estavam prestes a vê-lo de frente, alguém as agarrou pelos braços.

- Estava a ver onde é que se tinham metido… - era o mesmo polícia da entrada. – Posso saber o que estão aqui a fazer?
A Carlota e o Ricardo encolheram-se, esticaram-se, agitaram-se até que o Ricardo com uma joelhada entre as pernas do polícia, consegue fazer com que ele precise das mãos, libertando-os aos dois para uma nova corrida por entre os corredores da esquadra. A porta do gabinete abre-se e o Agente inchado pergunta o que se passa. Dá ordem para que agarrem as crianças e de todos os lados saem polícias na sua perseguição. A Carlota e o Ricardo fogem pelos corredores labirínticos e quando estão prestes a chocar contra equipas de dois agentes, mudam a direcção para um novo corredor onde vão encontrar novas equipas com outros agentes. Estão prestes a ficar cercados e tentam as portas dos gabinetes. A primeira está trancada. A segunda também mas a terceira abre-se com facilidade. Silenciosos, escondem-se atrás de uma secretária e ouvem passos. Alguém abre a porta.
- Viu entrar aí alguém, colega? – pergunta o agente que abriu a porta. A Carlota e o Ricardo olham um para o outro. Não tinham reparado que estava alguém dentro da sala.
- Não colega, por aqui tudo calmo. – Ufa!! Não foram vistos. A porta fecha-se e os passos afastam-se. Devagarinho as cabeças das crianças começam a espreitar por trás da secretária para verem com quem partilham a sala. A poucos metros está um agente sentado numa cadeira, de costas para eles, a olhar para a parede da frente. Para onde estará ele a olhar? – pensam os dois e, mais cuidadosamente, cada um de um lado da secretária, voltam a espreitar. Não vêm nada. Saem mais um bocadinho do seu esconderijo e continuam sem ver. Espreitam mais longe, assustam-se e voltam rapidamente para trás da mesa. De olhos fixos um no outro e, quase em simultâneo as suas bocas abrem-se para desenhar com os lábios sem falar: Simão. Ficam imóveis durante uns segundos, na esperança de não serem vistos nem ouvidos. Devagarinho o Ricardo começa a mexer-se. Espreita novamente para fora da secretaria e confirma que não deram por eles. De gatas começa lentamente e sem barulho a dirigir-se à porta que o polícia deixara entreaberta. Passa a porta e esconde-se do outro lado. Espreita novamente o fundo da sala para confirmar que está tudo bem e faz um sinal a Carlota que imita o seu percurso. Já do lado de fora, levantam-se os dois muito suavemente e respiram fundo, aliviados.
- Posso saber que confusão é que estão a tentar arranjar por aqui? – Pergunta uma voz grave.
A Carlota aperta o braço do Ricardo, assustada. Reconhece a voz, o corpo esguio mas não reconhece o rosto. Os seus olhos brilham num azul intenso que acompanha um sorriso generoso. A sua face é bonita e inspira confiança. A Carlota fica confusa, sem saber o que dizer. O Ricardo é o primeiro a reagir. Pega no computador e escreve com o ar mais natural do mundo:
- Estávamos só à procura dos nossos pais.
- E não era mais fácil terem perguntado logo? – a voz grave que tanto atormentara os sonhos da Carlota, tenta acalmá-los com um sorriso.
Ela ainda não sabe o que pensar e acusa-o: - Eu conheço-o. Foi você que envolveu o meu amigo Mário nesta confusão. Não foi ele que roubou o quadro da minha mãe e eu tenho a certeza disso.
- Tu és uma rapariga muito esperta. Eu sempre achei isso – Surpreendeu-a o Homem que já tinha rosto enquanto os encaminhava para uma sala onde podiam ver todos os seus familiares reunidos. – Podes ficar descansada que nós também sabemos isso.
- Nós quem?! – pensou a Carlota – O que é que vocês sabem desta história? – Preparava-se para perguntar quando a porta se abriu e se ouviram as vozes dos pais dos dois a falar ao mesmo tempo:
- Onde é que vocês andaram?
- À vossa procura. – voltou a responder o Ricardo.
- E era preciso andarem a correr por aí? – ralhou a voz zangada do Tomás. – Agora deixem-se ficar aqui sossegados enquanto resolvemos um assunto.

A Carlota e o Ricardo olharam em volta para tentar perceber o que se passava ali. A sala era espaçosa e tinha uma grande janela que dava para a rua. Sentados no parapeito, o Mário e o Henrique falavam calmos, sem zangas. O Ricardo acotovelou o braço da Carlota para apontar a tela da Isabel que descansava em cima de uma cadeira, coberta com o velho lençol. Junto da secretária de um oficial que convulsivamente escrevia ao computador, estavam a Vera, o Tomás, a Isabel e o Jorge. O Homem do rosto, depois de confirmar a informação que saía da impressora, veio na direcção das duas crianças que o olhavam curiosas para tentar perceber qual o seu papel no meio de toda esta história.

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