passarola quer voar: 25. Uma sobremesa bem merecida.

sábado, julho 5

25. Uma sobremesa bem merecida.

Está quase, quase a acabar. Só falta descobrir uma coisa... qual é a última missão da Carlota? :)

Já cá fora, a Carlota e o Ricardo sentiram que mereciam uma recompensa. Lembraram-se que tinham ficado sem sobremesa e reivindicaram um gelado.
- Não sei o que vocês pensam disto tudo mas eu acho que merecemos uma comemoração – ajudou-os o Henrique.
- Uma grande comemoração! – confirmou a Isabel a olhar para o seu quadro.

E foram todos para a geladaria onde, com umas grandes taças de bolas coloridas à frente do nariz, o entusiasmado grupo não conseguia falar de outra coisa:
- Agora já percebi a tua curiosidade com os novos vizinhos e as conversas com o Simão – dizia o Jorge ao Mário.
- O que é que o Simão quereria do meu quadro? – pensava alto a Isabel.
- Tu comentaste alguma coisa com ele sobre isso? – perguntava o Henrique ao Mário que negava com um movimento de cabeça.
- Deve ter andado a espiar a nossa casa – concluía a Isabel.
- Se calhar pensou que vos tínhamos pedido para nos guardarem o mapa do petróleo… - alvitrava a Vera. – Como não o encontrou, decidiu levar o quadro.
- O Agente David deu a entender que ele podia estar a preparar-se para fazer chantagem connosco. O quadro em troca da planta - lembrava-se o Tomás.
- Sim, isso fazia sentido – reflectia o Mário – está de acordo com o método dele.
- Com que então os nossos vizinhos descobriram petróleo e não nos diziam nada… – brincava o Jorge.
- Vamos ver no que isto dá – dizia o Tomás apreensivo.
- O que é que vão fazer agora que já se sabe? – perguntava a Isabel.
- Agora está tudo nas mãos da polícia – esclarecia a Vera. – Vamos dar-lhes a planta e eles vão escavar para perceber o que é que nós descobrimos.
- É muito estranho haver petróleo aqui e só se saber agora..- reflectia o Mário.
- E tinha que ser logo debaixo da nossa casa… - Desabafava o Tomás.
- Cá para mim, vocês já estão ricos e ainda se queixam – comentava o Henrique.
- Só que cá para mim, nós vamos é ficar todos sem casa, sem árvores, sem ar puro, sem campo..… - profetizava o Tomás.
- Sim, porque se realmente se descobrir petróleo ali, podem dizer adeus a toda esta zona.. – Concordava tristemente a Vera.

A Carlota e o Ricardo seguiam atentamente as conversas dos adultos com imensa vontade de lhes contar o que sabiam. De vez em quando, conformados com essa impossibilidade, trocavam sorrisos cúmplices e pensavam que pelo menos podiam falar um com o outro. Tinham sido tantas as emoções, aventuras, descobertas e mistérios daquelas férias que rebentariam se não tivessem alguém para falar sobre isso. Pensavam no Jeremias e nos Velhos Lagartos Sábios. Já teriam eles tido conhecimento do sucesso da sua missão? Assim que chegassem a casa, tratariam de procurar o Lagarto sorridente para o pôr a par de todos os pormenores.

Mas o grupo ainda não mostrava intenção de regressar. Continuava, entusiasmado, a falar das grandes descobertas do dia:
- Com que então Agente especial – olhava orgulhoso o Henrique para o Mário – E eu a achar que andavas metido em encrencas…
- E quando nós pensámos que tinham sido os lagartos a roubar o teu quadro? – Brincava o Jorge, fazendo a Carlota e o Ricardo corarem e a Isabel, o Mário e o Henrique rirem.
- Vocês acharam mesmo que os lagartos tinham roubado o quadro? – perguntou, surpreendida a Vera.
- Eu não te disse que eles eram todos malucos – comentou o Tomás provocando uma gargalhada geral.

O sol já se estava a esconder quando finalmente se decidiram a regressar a casa. O Tomás e a Vera ofereceram-se para levar o quadro da Isabel no jipe e a Carlota aproveitou a oportunidade para ir com eles, prolongando assim o tempo em que estava na companhia do amigo. O problema é que não podiam falar de nada à frente dos pais dele e por isso, comunicavam em silêncio, com trocas de olhares e sorrisos excitados.
- Vocês estão os dois muito estranhos hoje – comentou a Vera – devem estar a preparar alguma…
- Não. Estamos só cansados. – desculpou-se a Carlota.
- E que ideia foi aquela de andarem a fugir dos polícias pela esquadra? – Lembrou-se o Tomás.
A Carlota, muito séria, argumentou – A ideia foi deles, de virem a correr atrás de nós!!
- Foi muito engraçado!! De repente só começámos a ver agentes a entrar e a sair muito atrapalhados e não estávamos a perceber nada do que estava a acontecer – contou-lhes a Vera divertida. - Só depois é que começámos a ver que eles estavam todos nervosos porque não vos encontravam. Hi!! Só me lembro da cara do Agente Ribeiro!… – A Vera riu-se com a recordação. - Sabem qual é? Aquele que lá foi a casa, só gritava, muito inchado que eles eram todos uns incompetentes…
- Agora parece divertido mas, quando descobrimos que aquilo era tudo por causa de vocês, apanhámos uma vergonha! – comentou, mais sério o Tomás.
- O que vos safou foi o Agente David, que vos achou piada e foi à vossa procura..
- E lá nos encontrou. – confirmou o Ricardo.

As duas crianças não puderam deixar de sorrir ao pensar que tinham conseguido despistar um batalhão inteiro de oficiais da polícia. O Ricardo piscou o olho à Carlota e escreveu no computador para ela ler
- Bom trabalho, agente Carlota!
Ela puxou-lhe o computador e respondeu também por escrito – Bom trabalho, agente Ricardo.

Mas a agente Carlota ficou verdadeiramente triste quando, já em casa, viu o jipe levar o seu amigo para longe dela. Sentia um vazio na barriga, uma espécie de sensação de fim de festa, de que o melhor já tinha passado e no entanto, ainda tinham mais uns dias de férias para gozar. Ainda podia acontecer tanta coisa, porque será que se sentia assim?

Nessa noite praticamente não jantaram. A Isabel foi para a tenda branca com o seu quadro e, sentados na cozinha, os homens ainda chegaram a tirar os tachos para fora do armário para voltar a guardá-los lá dentro. Ninguém tinha fome e estavam todos cansados demais para comer.

Antes de se deitar, a Carlota foi espreitar o terreno em volta da casa mas não encontrando o seu lagarto, resolveu ir dormir.

Quando finalmente adormeceu, voltou a sonhar. Mais que uma sucessão de acontecimentos estranhos, a Carlota recebeu durante a noite uma comunicação dos seus amigos lagartos. Se foi verdadeira ou falsa, ela nunca chegou a saber mas, enquanto dormia, viu perfeitamente os 8 Velhos Lagartos Sábios sentados nas suas poltronas feitas de sapatos. O Sábio dos Sábios falou e disse.
- A Assembleia de Lagartos quer agradecer, a si e ao seu amigo, o vosso fantástico contributo para a preservação do nosso segredo. Nunca os esqueceremos.
Com o cantinho do olho a Carlota conseguiu ver que o Lagarto do dedal não dormia. Muito enfiado no ténis, escondia-se debaixo do chapéu, não resistindo à tentação de a espreitar de vez em quando.
- Resta-lhe apenas uma pequena missão que convém que não seja esquecida – interrompeu o emproado dos emproados.
- Tratarei disso, assim que a minha mãe terminar o quadro – garantiu a Carlota, que não se tinha esquecido, enquanto se divertia a ver o dedal a andar para cima e para baixo, sempre que os olhos do lagarto a tentavam ver.
- Por tudo o que fez e, pelo que estamos certos que ainda fará, tenho o prazer de lhe anunciar que é o primeiro membro honorário, não réptil, desta Assembleia. O seu retrato está neste momento a ser pintado na nossa galeria da história...
A Carlota vislumbrou na parede o enorme corredor de imagens de répteis e viu dois lagartos a desenharem o seu rosto mesmo ao lado de um desenho que, pelo sorriso, só podia ser o do Jeremias. Isso deixou-a muito satisfeita.
- A nossa amizade será eterna – terminou o Sábio dos Sábios enquanto a imagem da Sala da Assembleia se ia diluindo no ar. A última coisa que a Carlota viu foram os olhos escondidos do Lagarto do ténis bota vermelho e continuou a dormir tranquilamente até à manhã seguinte.
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