passarola quer voar: A Criatura do Poço – 4

sexta-feira, fevereiro 19

A Criatura do Poço – 4

- Pára o carro. Estás nervosa demais para guiar.
- Não estou nervosa. Só quero chegar lá depressa.
- Não percebo porque é que quiseste vir… Ainda por cima no teu estado, já devias estar de licença.
- Não vou largar este caso enquanto não perceber o que é que se está a passar.
- Estás a correr riscos desnecessários…
- O que é que isso te preocupa? Já te disse que não és tu o pai…
- Eu também sei fazer contas. O que eu não percebo é como é que não vi que estavas grávida…
- Coisas…
- Já tinhas de estar com uma barriguinha… Mas por mais que puxe pela memória, não vejo nada saliente ou fora do lugar no teu corpo… Antes pelo contrário… Hummm…
- Pára com isso!
- Porquê? É uma bela memória…
- Já te disse para parares com isso! Temos um caso bem mais sério para resolver.
- Ok. E o que é que estás à espera de descobrir aqui?
- Alguma resposta. Porque é que os poços aparecem? O que é que está lá em baixo que faz desaparecer em poucos segundos a estrutura de um ser vivo. E o que quer que esteja lá em baixo, o que é que quer de nós?
- E achas que vais ficar a saber? Temos os mais brilhantes cientistas a trabalhar nisto e ainda não descobriram nada…
- Mas agora temos os óculos…
- …Que ainda não foram testados. Eu não vou olhar lá para baixo e acho que devias fazer o mesmo. Aliás, acho um disparate virmos antes da brigada que vem tapar o poço e recolher os corpos.
- Eu preciso de saber o que é que está lá em baixo.
Pip pip pip pip pipipipipipip
- Estamos perto. Há ali uma saída nessa direcção. CALMA! Vai mais devagar! Queres matar-nos?
- Agora, nem pensar…
- Mete na cabeça que não vamos ficar a saber muito mais do que já sabemos. Foram encontrados nove poços de pedra em nove pontos distantes do país. Sabemos que quem olha lá para baixo fica com o corpo completamente lixado e no entanto continua vivo. Todas as criaturas… quer dizer, pessoas, encontradas por perto só conseguem balbuciar coisas sem sentido sobre os poços, embora os cérebros se mantenham aparentemente com a actividade normal. Sempre que se tapa um poço, passado uns dias, aparece outro…
- Desta vez, nós vamos conseguir chegar antes que o tapem e com os óculos vamos descobrir o que é que se esconde ali…
- Vais. Eu não vou olhar lá para baixo, gosto muito do meu corpinho…
- Não te preocupes. Já tinha percebido que não podia contar contigo.
- Eu vim contigo, não te queixes.
PIPIPIPIPIPIPIP
- Chegámos. Toma. Leva também uns óculos. Pode ser que te dê um acesso de boa vontade.
- Acho que vais preferir que me mantenha sólido para te poder levar de volta depois de olhares lá para baixo.
- Isso não vai acontecer…
a ser continuada

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