passarola quer voar: 9. A voz do telefone

sexta-feira, fevereiro 22

9. A voz do telefone

Aha! Para um fim de semana que se prevê de chuva… um capítulo com um grande gelado de fruta… :)

Durante a viagem para a vila tive que conter a excitação que sentia. Era a primeira vez que tinha alguém ao meu lado tão entusiasmado como eu, com coisas de investigações e isso, dava outra importância ao meu mistério. Desta vez é a sério, somos uma verdadeira equipa de detectives em acção - pensava.

Quem não estava nada entusiasmado era o Tomás. Guiou-nos em silêncio durante todo o caminho até à vila e, nas duas vezes que os nossos olhares se cruzaram no retrovisor, senti-o tão frio que os meus pêlos se eriçaram todos.

Assim que chegámos, eu e o Ricardo fomos para o jardim da praça central. Combinámos que esperaríamos ali enquanto a Vera e o Tomás iam tratar dos seus assuntos. Assim que os perdemos de vista, e sem precisar de dizer palavra um ao outro, dirigimo-nos para a cabine de telefone pública que se encontrava numa das pontas do jardim. Só aí, parámos para falar.

- Trouxeste o número? – Perguntou-me o Ricardo. Enquanto lhe respondia afirmativamente, abri a boca da minha mochila sapo e retirei lá de dentro, o caderno e a minha carteira das moedas. Pus-me em bicos dos pés para estudar o aparelho mas, ainda não tinha chegado a nenhuma conclusão, já estava o Ricardo a dizer que não com a cabeça.
- Não é de moedas. Funciona com cartão. – Escreveu.
- Bolas!! E agora o que é que vamos fazer?… - Saímos os dois da cabine, decepcionados, e sentámo-nos cabisbaixos na relva do jardim.

– Porque é que as coisas nunca acontecem como nós as imaginamos? – Estava eu a perguntar ao ar quando, de repente, o Ricardo deu um pulo, levantou-se, olhou em redor e com um sorriso começou, muito agitado, a apontar para a rua que ficava do outro lado do jardim. Como eu não percebi logo, escreveu:
- E que tal se comprássemos um cartão na papelaria?
- É verdade, ali há uma papelaria!! Eu já venho!! – Gritei de contente e larguei a correr nessa direcção. Em poucos minutos já voltava a acenar triunfante com um valioso cartão cheio de chamadas telefónicas. Voltámos a entrar na cabine e olhámos um para o outro. Com o coração a bater muito depressa, peguei no auscultador e introduzi o pequeno rectângulo na respectiva abertura. Satisfeitos ouvimos um sinal de linha. Respirámos fundo e sorrimos. Voltei a colocar o auscultador no lugar.
- E agora, o que é que dizemos? – Perguntei. O Ricardo fez-me um sinal e escreveu uma frase no computador que me cumprimentou com três vozes diferentes. A primeira era feminina e as outras duas masculinas, todas com tons diferentes.
- A de mulher levanta menos suspeitas – sugeri. Como concordámos, o Ricardo preparou tudo e levou o auscultador para bem perto do computador. Fez-me sinal para marcar o número e ouvimos os dois, com as cabeças muito juntinhas aos aparelhos, um sinal a tocar do outro lado.

O telefone tocou, tocou e, quando ainda não esperávamos, passou para um toque intermitente, de linha impedida.
- Não acredito! – disse eu pessimista, a sentir um beicinho a querer saltar-me dos lábios. Mas o Ricardo fez-me um sinal para não desistir. Voltei a empoleirar-me nos bicos dos pés para marcar o número e desci tão rapidamente que bati com toda a força na cabeça dele. Por pouco, com a confusão, não ouvíamos uma voz a responder do outro lado:
- Residencial 3 Estrelas, boa tarde!

A caneta electrónica do Ricardo deu a ordem à nossa voz feminina – Boa tarde! Quem fala por favor? – Não tínhamos pensado na possibilidade de o número não ser de uma casa particular. O Ricardo encolheu os ombros e ouvimos a resposta – Está a falar com Albano Dias, da Residencial 3 Estrelas, deseja fazer uma reserva?
- Desculpe, é engano – era a última frase que tínhamos preparado para a nossa voz.

Olhámos um para o outro novamente. Está certo que não descobrimos o ladrão mas encontrámos mais uma pista: Quem procuramos está à nossa espera num dos quartos da Residencial 3 Estrelas. Já cá fora, no relvado, o Ricardo fez uma rápida pesquisa na sua máquina e informou-me:

- Esta residencial fica muito perto daqui, na praça do mercado velho. – Apontou-me um pequeno mapa no monitor.
- Então do que é que estamos à espera? Vamos!! – disse eu impulsiva.
- Estamos à espera dos meus pais – dissuadiu-me o Ricardo apontando para a Vera e o Tomás que regressavam na nossa direcção.

Nessa tarde, ainda comemos um grande gelado de fruta na melhor geladaria do mundo e vimos a nossa investigação adiada com um regresso ao monte onde ficavam as nossas casas.
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