passarola quer voar: 26. O fim das férias, parte II

domingo, julho 20

26. O fim das férias, parte II

Quase, quase a acabar... é já para a semana o último bocado do último capítulo, que é definitivamente o melhor... Ora confirmem lá...

As crianças confusas encaminharam-no para a gruta onde, para sua surpresa só estavam lagartos. Nem velhinha, nem peixe, nem alguidar.
- Mas, não é possível! – exclamou a Carlota olhando para o Ricardo que estava tão surpreendido como ela.
A Isabel, ao ver os miúdos dirigirem-se para a gruta com o estranho, tinha-os seguido e estava agora a juntar-se eles.
- Acho que vocês acabaram de conhecer a Velha do Mar – explicava o pescador.
- A velha do mar, que história é essa? – perguntou a Isabel, curiosa, enquanto abraçava a filha.
- Ora! Não conhecem a lenda cá da praia? Dizem os que por cá andam que aqui morreu a mulher de um pescador, eternamente à espera que ele voltasse do mar.
- E ele nunca voltou? – perguntou a Carlota, com um arrepio provocado, não só pela imagem do fantasma, como por estar ainda com o cabelo molhado.
- Não, nem o homem nem o barco que o levou. Diz a lenda que o fantasma da velha continuou por aqui, de olhos postos nas ondas, sempre à espera que ele regressasse. Dizem também que só as crianças e os animais a podem ver, a preparar o peixe para o almoço do marido.
- Brr – Fez a Carlota com um novo arrepio. – E ela também falou com outras crianças como falou connosco?
- Há quem acredite que sim… outros dizem que estas histórias não são mais que lendas e invenções de miúdos com muita imaginação… O que eu sei é que em nenhuma praia eu pesco peixe como nesta! E por falar nisso, tenho que ir andando que a minha mulher está viva e de boa saúde à espera que lhe leve o peixe para o almoço…

Depois de se despedirem do pescador, a Carlota, o Ricardo e a Isabel ficaram por mais uns segundos a observar o local onde teria morrido a Velha do Mar. Ao longe ainda lhes pareceu ouvir uma leve voz de cana rachada a trautear uma letra sobre um pescador que nenhuma onda fazia vacilar. Uma brisa entrou pela gruta fazendo esvoaçar os cabelos da Isabel que olhava de uma forma absorvente para todo o espaço que a rodeava.

O Ricardo foi a correr buscar o seu computador e a Carlota foi atrás dele. A Isabel demorou-se mais um bocado e quando saiu da gruta, trazia um sorriso estranho nos lábios.

Almoçaram maravilhosamente: sandes mistas, com ovo cozido, alface, tomate e orégãos, regadas com muita limonada e, para a sobremesa, uvas, pêssegos, ameixas, melão e meloa à descrição. Contaram aos outros a estranha história e brincaram todos com o facto de já lhes ter acontecido tanta coisa bizarra nessas férias que só lhes faltava mesmo conhecerem um fantasma. O Tomás aproveitou mais uma oportunidade para confirmar que os seus amigos eram todos loucos e só regressaram a casa, mesmo ao final do dia, quando depois de tantos jogos, corridas e mergulhos, já ninguém conseguia mexer um dedo.

Ao chegar, a Isabel foi a primeira a correr para o duche. A sua expressão mantinha algo de intrigante e a Carlota lembrou-se do vento da revelação do fantasma. Foi a segunda a ir para a casa de banho logo a seguir à saída da mãe. Para libertar um bocado do vapor dos duches, abriu a pequena janela e, ao fazê-lo, viu num relance que estavam muitos lagartos camuflados na relva do jardim. Olhou com mais atenção e ficou com a sensação que aguardavam por qualquer coisa e, mais uma vez ouviu as palavras da velha: todas as dúvidas ficarão diluídas no ar.

Quando regressou ao quarto encontrou o Jeremias – É hoje, não é? – perguntou. O lagarto acenou com a cabeça e a Carlota ficou com a certeza de que estava prestes a cumprir a última missão do seu acordo com os lagartos. Vestiu-se e dirigiu-se à tenda branca onde confirmou que a mãe estava a pintar. Sentou-se um bocadinho atrás e ficou contente ao perceber que o bom humor da pintora tinha regressado.
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