passarola quer voar: Terror no Lar de 3ª idade - parte do meio

segunda-feira, agosto 10

Terror no Lar de 3ª idade - parte do meio

Enfiado no roupeiro de um quarto de um lar de velhas, tentava adivinhar o que se passava do lado de fora. Os passos tinham parado e alguém começava a rodar lentamente a fechadura.
Sem saber o que o esperava do outro lado, entrou em pânico. Era inútil tentar controlar os nervos e, ao ver a maçaneta começar a rodar, teve de fazer um esforço para manter o coração no lugar e os olhos abertos. Conseguiu não os fechar com o medo quando a porta se abriu, mas por mais que tentasse não percebia nada do que estava a ver. Lá fora, o quarto estava tão escuro como o interior do roupeiro.
Sentiu uma mão fria a tocar-lhe no braço e estremeceu. Alguém falava com ele numa voz sussurrante. Aos bocados começou a reconhecer os contornos do rosto da avó e soltou um pequeno grito de alivio. Era só a avó a chamá-lo para que a seguisse.
Mas então, de quem eram os outros passos?
Saiu a medo do armário e olhou em volta. Estava tudo calmo, como ele tinha inicialmente imaginado. Tentou tranquilizar-se. Era imaginação dele, alucinação da avó, não havia ali nada de estranho.
Um bocado mais calmo, deixou a velha guiá-lo através do corredor que já tinha atravessado tantas vezes durante o horário das visitas. Mas agora parecia-lhe diferente. Seria da escuridão da noite? Apurou os sentidos para perceber. Não. O problema é que ele continuava a ouvir passos a aproximarem-se, vindos de todas as direcções. Não era alucinação.
Virou-se subitamente para trás. Não viu ninguém. Olhou em redor. Nada.
Continuou a andar e novamente os passos a persegui-lo. Voltou a virar-se, agora ainda mais bruscamente, mas o que quer que estivesse ali não se deixava ver.
Voltou a assustar-se com a possibilidade da história da avó ser verdadeira. Baixinho, tentou perguntar-lhe se também ouvia passos mas a velha continuava a andar, em silêncio, sem lhe dar resposta. Estava a encaminhá-lo para a sala de convívio, ao fundo do corredor.

Chegaram. A porta estava fechada e ele lembrou-se da imagem que tinha daquela sala durante o dia, com centenas de velhas viradas para um televisor gigante, de manhã à noite. A avó abriu a porta e puxou-o para o interior.
A sala estava às escuras e pareceu-lhe ver as mesmas velhas sentadas, imóveis e silenciosas na noite, nas mesmas cadeiras onde passavam os dias. Ficariam ali, como mortas, à espera que o início da emissão televisiva da manhã lhes devolvesse a vida?
Não podia ser. Se estivesse ali alguém, ele conseguiria ouvir as respirações, os movimentos, sentir o cheiro das lacas e dos perfumes baratos…
Devia estar a delirar, mas tudo aquilo lhe mexia demais com o sistema nervoso. Não aguentou.
Deu um puxão à avó e perguntou-lhe o que é que estavam ali a fazer, o que é que ia acontecer. Queria acabar com aquela palhaçada o mais depressa possível.
Ansioso, esperou a resposta da avó que sorriu para ele. Sem grandes explicações disse-lhe simplesmente que se sentasse para ver com os próprios olhos.
Mas ver o quê? Foi a última pergunta que lhe fez, antes de se sentar num cadeirão que estava no centro da sala e que nunca tinha visto antes.
Assim que se encostou, ouviu uns cliques metálicos e sentiu os braços e as pernas a ficarem presos ao assento. Desesperou.
Queria perguntar num berro o que é que se estava ali a passar, quando percebeu que um adesivo lhe colava os lábios um ao outro. Não se conseguia mexer, não conseguia gritar. Não conseguia fugir.

Agora estavam centenas de pequenos pares de olhos a olharem para ele no escuro e percebeu de que eram quando uma linha de pequenas luzes vermelhas se acendeu no chão em todo o redor da sala…

... a ser terminada...

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