passarola quer voar: Morte a seco na lavandaria, o fim

sexta-feira, setembro 18

Morte a seco na lavandaria, o fim

Estava deitado num espaço escuro e apertado e mais do que qualquer coisa intrigava-me o cheiro que me agredia. Não o conseguia identificar, confundia-se com um intenso cheiro a flores. Ainda pensei estar num jardim, mas não, o ar era demasiado abafado para isso. Sem saber onde estava e porque estava ali, a única coisa que me desesperava, era não saber que cheiro nauseabundo era aquele que me rodeava. Procurava na minha memória algum momento em que o tivesse sentido e de repente lembrei-me do velório da minha tia Cleia. Era isso. Rapidamente separei nas minhas narinas os três odores que compunham aquele cheiro: o cheiro a igreja, o cheiro a flores, o cheiro a corpo morto. Estava numa capela mortuária e senti o coração a parar de bater. Ou a certeza de que o meu coração já não batia. Entrei em pânico. Era eu que tinha morrido! Num flash, vi-me deitado, na pequena capela vazia, usando o fato e camisa que tinham ficado na sinistra lavandaria do bairro. Acordei suado de medo…
Este foi o primeiro pesadelo de uma sequência de muitos que me levaram à loucura.
Na noite a seguir o som, o cheiro, a sensação asfixiante da terra a cair por cima daquele caixão onde estava fechado. Era o meu funeral. Na outra noite a angústia de ter sido enterrado vivo, de já não ter ar para respirar e não conseguir gritar. Cada noite um pesadelo diferente, uma angústia diferente onde o único factor que se repetia, era o meu corpo morto, vestido com o meu melhor fato e camisa.
Foi então que procurei desesperadamente o recibo amachucado que tinha atirado para um canto de uma estante na sala e foi nesse momento que vi aquela data borrada a tinta na parte de trás do recibo. “Data de validade”, dizia.

Sentei-me branco de consciência. Aquela não era uma qualquer data de validade. Aquela era a minha data de validade e eu já tinha poucos dias de vida.

Ainda pensei voltar à lavandaria maldita, pedir satisfações, encontrar uma razão lógica para tudo, mas a proximidade da porta da loja era o suficiente para sentir o meu corpo a enregelar e os meus pés a recusarem-se a avançar. Nunca tinha sofrido um medo assim em toda a minha vida. Para me desculpar a cobardia, decidi acreditar convictamente que o pior que podia fazer era voltar à lavandaria. Se não tivesse o fato e a camisa comigo, como é que poderia ser enterrado neles? Sem isso, os meus pesadelos não se poderiam concretizar e como tal, não eram mais do que pesadelos. Tinha a certeza disso.
Mas a verdade, é que os pesadelos pioraram e com as noites em sufoco, os dias transformaram-se numa confusão de pensamentos e sentimentos que me impediam de viver. O meu corpo arrastava-se, incapaz de ver, de perceber, de reagir, de trabalhar. A imagem de mim morto, vestido com o meu melhor fato e camisa, não me saia da cabeça um segundo do dia. Foi aí que decidi aceitar a fatalidade e fechar-me em casa sozinho, à espera da morte. Era a única coisa que podia fazer.

Hoje é o dia em que vou morrer. Não tenho o fato e a camisa com que deveria ser enterrado. Deixei-os na lavandaria. Tomei um longo e relaxante banho de espuma, vesti um fato e uma camisa novos, especialmente comprados para o efeito e ofereci-me um belo banquete de despedida. Acabei de jantar e preparava-me para me deitar tranquilamente na cama à espera dela, quando voltei a tropeçar no recibo amachucado da lavandaria. Abri e fechei os olhos três vezes, não quis acreditar no que vi. No local onde tinha estado a data de hoje, bem marcada a tinta, agora está escrita esta frase:

“Éramos os teus favoritos e abandonaste-nos na lavandaria. Esta é a nossa vingança”

Não é possível, as roupas não têm sentimentos, isto não é verdade. Ou é... e eu podia não estar agora a morrer? Penso nas roupas, na lavandaria e na ideia absusda de sair agora de casa a meio da noite, arrombar a porta e resgatar o que nunca devia ter ficado sem resgato. É isso, mas o corpo está entorpecido, não reage. O veneno dos comprmidos cromeça a fazer afeito e as pavavras começam a fugir-me. Voc^~es têm de prceber, ei não podia ficar à` esper da morte acordado. Ei sempr decdi a muinha vida, eu tnho de fcar spre a gnhar,. Sse era para morrer ear eu quue tnha de m matar… Voc~es t~em de percebr snhdjkr cshjhrtnj nkjygrhueiwç nrbfffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffff

ffffffffffffffffffffffim

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